DO PASSADO AO FUTURO
As perguntas “de onde viemos?” e “para onde vamos?” ecoam como melodias ancestrais, dançando nos sonhos e inquietações da humanidade ao longo dos séculos. Indagações universais, pertencentes a todos os povos, sussurradas pelo vento do tempo.
O Museu do Amanhã surgiu como um farol que rasga a névoa do horizonte incerto, onde o pensamento encontra a ação. Ali, as ideias se entrelaçaram em um palco onde o impacto de nossas escolhas dialogou com a promessa de transformar o rumo de um futuro que, à primeira vista, parece esmaecer-se. Mas ali reside o inusitado: o único lugar no mundo onde cultura, ciência e questionamentos sobre o porvir convergem e se tornam um só, revelando a potência de um amanhã que podemos, juntos, esculpir.
Ainda que sem respostas definitivas, a sensação de que gigantes da inovação como o MIT, Google e NASA, colaboram para educar e informar, tentando moldar o destino da Terra, paira no ar. E, entre tantos momentos marcantes, este será lembrado como um daqueles que mais profundamente plantaram sementes reflexivas.
PENSAMENTO
O terceiro cubo, a experiência do Pensamento. Colunas erguem-se como totens temáticos de diversas culturas, invocando família, festividades, falando, vida e morte. Vozes e melodias antigas se entrelaçam, conectando mundos distantes. A exposição é um mosaico vibrante, que revela como, em nossas infinitas diferenças, somos tão essencialmente iguais. O espaço resplandece com imagens de lugares ao redor do globo, reforçando que tudo o que criamos dá sentido ao mundo físico.
Minha filha chorou. Chorou ao ver as guerras, as destruições. Percebeu a brutalidade que atravessa épocas e civilizações. E ali, entre lágrimas, emergiu uma reflexão: não são as leis que moldam o ser humano, mas sim a consciência de que somos um só. É a partir dessa unidade que as ações mudam – primeiro com nós mesmos, depois com os outros.
AMANHÃS
Seguindo o percurso, adentrei os "Amanhãs", onde possibilidades se abrem como flores ao amanhecer. Os jogos interativos, como o Jogo das Civilizações, nos permitem decidir o destino das sociedades, administrando recursos para evitar o colapso. Cada decisão ressoa como um eco que molda o futuro. Ali, projeta-se um esboço do que nos aguarda: a expansão do conhecimento, a escassez de recursos, a longevidade ampliada, e a criação de novos seres, naturais e artificiais.
NÓS
No presente momento, o Sol nasce em outros continentes, e com ele, o amanhã. Já é manhã na Austrália… Esse é o ciclo incessante do futuro, que se renova a cada amanhecer. Na área “Nós”, me deparei com um espaço sensorial, onde a razão cede lugar à intuição, ao adentrar numa oca indígena brasileira. As Ocas são santuários de saberes ancestrais acolhedores . Ali, naquela luz cálida e com sons harmoniosos, fluíram conforme o espaço era ocupado, como se cada presença ativasse uma memória antiga, um conto a ser passado futuro.
A oca – lugar de troca, onde os mais velhos relatam histórias aos mais jovens – traz o frescor de uma pausa emocional. A ventilação cruzada e a luz gentil evocam uma pausa para respirar, para pensar no legado que deixaremos. Naquele instante, o presente se revela não como uma ponte entre passado e futuro, mas como o ponto de encontro onde ambos se tocam, e nós, atores nesse grande teatro, moldamos os cenários à nossa volta.
Ao centro, o churinga, artistas dos aborígenes australianos, simboliza a passagem do conhecimento entre gerações. Este objeto, único no acervo, sintetiza a missão do Museu: ser um elo vivo entre o que foi e o que será, onde cada amanhecer representa uma nova chance de reinventar o mundo.
REFLEXÃO
Ao sair, meus pensamentos retornaram ao Rio de Janeiro oitocentista e seu reflexo no agora. Qual será o legado que deixaremos para os habitantes do século XXII?
Que tipo de almas povoaram os séculos XX e XXI, capazes de contaminar suas águas e envenenar o próprio ar que respiravam? Que seres perpetuaram milhares na miséria por poder e privaram aquilo que é mais básico, como a água? Que insanidade é essa que deixou cegos a tantos, levando-os a herdar um mundo de caos para seus próprios descendentes?
Recordo, então, dos meus projetos. Humanizados, fundamentados, de profunda transformação. Projetos que poderiam redesenhar o cenário das cidades, erradicar a miséria, reduzir a violência e a dor. Mas tantas vezes fui ignorada, como se fosse invisível. Tantas vezes ouvi "você não vai conseguir", sem nunca entender o que aqueles que me disseram isso realmente queriam dizer ou produzir no meu ser. Ingênua, talvez, por bater nas portas dos que podem ajudar a concretizar o futuro que tanto sonhamos, como as academias, hubs, e BID?
No entanto, entre o passado e o futuro, está o homem – sempre o homem. E será este ser, com uma consciência elevada adquirida, que moldará o mundo que desejamos.
Voltei com força renovada, na certeza de que o amanhã que tanto almejamos será semeado pelas escolhas de hoje. Que podemos sim, cultivar a justiça e a paz, plantando as sementes que desejamos ver brotar. Porque é somente pela capacidade de imaginar e solucionar problemas, nos distinguimos como seres humanos dentre toda criação.
Cordialmente,
Angela Camolese